O fenômeno dos influenciadores digitais é relativamente recente, e sua ascensão marca uma revolução nas formas de alcançar a notoriedade. No início deste século, era impensável conquistar fama sem o apoio da mídia tradicional. A televisão, o rádio e os grandes veículos impressos ditavam quem ganhava projeção e quem permanecia no anonimato. Hoje, milhões de seguidores podem ser conquistados sem nunca ter pisado em um estúdio de TV — uma transformação que nos faz refletir sobre o caminho que trilhamos até aqui e o futuro dessa trajetória.
Segundo a pesquisa Influencer Evolution 2020, realizada pela WGSN, a influência digital passou por várias fases distintas que refletem as mudanças de valores e perspectivas de nossa sociedade.
A fase aspiracional: o início da influência digital
Nos primórdios das redes sociais, a influência era marcada por um estilo de vida aspiracional e individualista. Os influenciadores eram, na maioria, o que muitos jovens desejavam ser: viajantes, figuras de sucesso, pessoas cuja vida parecia perfeita. Era a era dos blogs e das primeiras plataformas de compartilhamento de fotos, onde o estilo de vida glamouroso era o ponto central. Muitos influenciadores da época começaram a aparecer na grande mídia, sendo reconhecidos pelo impacto que exerciam sobre seus seguidores.
Esse período foi essencial para estabelecer a noção de influência digital, mas o foco estava muito mais voltado para o eu — o “eu” ideal, o “eu” que inspira, mas não necessariamente compartilha vulnerabilidades ou questões reais. Era um conteúdo voltado para o sonho e o desejo, mais do que para a realidade.
A fase inspiracional: autenticidade e consciência social
Com o passar dos anos, a influência digital começou a evoluir, e a autenticidade se tornou uma nova exigência. Entramos em uma fase inspiracional, na qual muitos influenciadores passaram a focar na vida real, abordando questões sociais, desigualdades e saúde mental. Esse período foi também marcado por temas complexos, como a cultura do cancelamento e o uso das redes sociais para disseminar desinformação, desafiando a credibilidade de muitas figuras públicas.
Durante essa fase, os influenciadores se viram pressionados a ir além das imagens idealizadas e a se engajar em temas relevantes para suas comunidades. Falar de saúde mental, sustentabilidade e diversidade se tornou um diferencial e, para muitos, uma exigência. A influência deixou de ser algo puramente aspiracional para se tornar um canal de conscientização e debate, onde a conexão com o público se fortaleceu em torno de valores compartilhados e autênticos.
O presente e o futuro da influência: informação e autoridade
Hoje, o marketing de influência está novamente passando por uma transformação. Estamos entrando em uma fase de influência baseada em informação e confiança, onde o público busca figuras que ofereçam conhecimento e insights confiáveis. A diferença entre influenciadores e criadores de conteúdo se tornou mais clara: nem todo influenciador é criador de conteúdo, mas muitos criadores se tornam grandes influenciadores graças à sua expertise e capacidade de engajar o público de forma significativa.
Novos arquétipos surgem para dar conta da diversidade do mercado de influência digital. Entre eles, destacam-se o advocate, um influenciador que utiliza a informação para inspirar e educar seu público, e o thought leader, alguém que conquista visibilidade graças a sua opinião embasada e seu conhecimento em determinado nicho. Ambos refletem uma influência cada vez mais direcionada à troca de ideias e à construção de um pensamento coletivo.
Community stakeholders: a transformação do influenciador cultural
Outro aspecto relevante desse novo momento da influência digital é o que o estudo DIRTY WORDS - Influence, da Protein Agency, descreve como a transformação dos influenciadores culturais em community stakeholders. Anteriormente, os influenciadores culturais eram conhecidos por exibir um estilo de vida sofisticado e, muitas vezes, fabricado para atrair seguidores. Hoje, a valorização da experiência real e da autenticidade fez com que muitos desses influenciadores se tornassem pilares em suas comunidades, estabelecendo conexões mais profundas e significativas com seus seguidores.
Esse movimento reflete a demanda por um conteúdo que vai além da estética e da superficialidade. Os community stakeholders são influenciadores que, mais do que vender uma imagem, buscam criar vínculos sólidos com suas comunidades, proporcionando um espaço de troca onde experiências reais, valores e ideais são compartilhados. Essa abordagem gera uma influência duradoura e com propósito, onde a imagem pessoal do influenciador é construída em conjunto com a comunidade que ele impacta.
A influência com propósito
Essa evolução nos mostra que a influência digital, em sua forma mais valiosa, transcende métricas de popularidade ou seguidores. O futuro da influência parece caminhar em direção a um modelo mais informado, autêntico e voltado para o bem comum. O valor de um influenciador não está mais apenas em sua capacidade de vender um estilo de vida ou um produto, mas em sua habilidade de inspirar, educar e estabelecer conexões verdadeiras com uma comunidade que compartilha dos mesmos valores.
À medida que novos criadores surgem e o mercado continua a evoluir, a relevância de cada influenciador dependerá cada vez mais de sua autenticidade, seu conhecimento e sua disposição em contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais informada e consciente. Influência com propósito é a nova moeda de valor, e aqueles que conseguem alinhar seu conteúdo com as necessidades reais de suas comunidades estão moldando o futuro do mercado digital.