A plataformização da influência: como encontrar o equilíbrio entre números e autenticidade
Criar conteúdo é uma tarefa complexa, que envolve planejamento, roteirização e produção cuidadosa. Os bons criadores de conteúdo sabem disso. Eles estruturam suas rotinas, definem suas prioridades e se esforçam para se tornar referências em seus nichos. Cada post, vídeo ou história reflete não só um trabalho criativo, mas também um profundo entendimento das necessidades e expectativas de sua comunidade.
Entretanto, é difícil ignorar a sensação de que, muitas vezes, esse trabalho não é devidamente remunerado. As plataformas exigem consistência e frequência de postagens para garantir que o conteúdo atinja a comunidade, mas, em contrapartida, muitas dessas mesmas plataformas não monetizam ou o fazem de maneira insuficiente. Esse modelo de trabalho, onde o esforço é grande e o retorno financeiro nem sempre acompanha, é o que chamamos de plataformização — um fenômeno que está se tornando cada vez mais comum no ecossistema digital.
O impacto da plataformização no trabalho criativo
A plataformização tem um efeito direto na maneira como a influência digital é percebida e, consequentemente, remunerada. O criador de conteúdo é reduzido a números e percentuais, como se sua relevância pudesse ser medida exclusivamente pela quantidade de seguidores, curtidas ou compartilhamentos. Essa abordagem ignora completamente as particularidades que tornam cada creator único — as nuances que os algoritmos não conseguem capturar, mas que são essenciais para criar uma conexão verdadeira com a comunidade.
E aí surge uma questão importante: como estabelecer uma maneira justa de trabalho e remuneração quando as particularidades não são consideradas pelos algoritmos? Afinal, se o valor do seu conteúdo é nivelado apenas por métricas superficiais, como garantir que o trabalho criativo, que exige tanto esforço, seja devidamente valorizado?
A Sociedade do Desempenho e a influência dos números
Essa é uma pergunta que não tem uma resposta simples, especialmente quando consideramos o contexto maior em que estamos inseridos. O filósofo Byung-Chul Han descreve a nossa era como a Sociedade do Desempenho, na qual somos impulsionados a medir nosso sucesso — e até nossa identidade — pelos números. A influência digital é, sem dúvida, um reflexo dessa realidade. Vivemos em função de métricas, e, em algum momento, esses números podem se tornar o gatilho para crises de ansiedade e questionamentos sobre nossa relevância.
O equilíbrio entre o tecnológico e o humano se tornou uma área nebulosa, onde os algoritmos ditam os padrões de sucesso, enquanto as particularidades — aquilo que realmente diferencia um criador de outro — são, muitas vezes, deixadas de lado. E, como criadores, essa pressão pode ser desgastante, especialmente quando percebemos que estamos sendo nivelados por métricas que não captam a essência do nosso trabalho.
Diversificar para sobreviver: estratégias além das plataformas
Diante dessa realidade, uma das soluções para os criadores de conteúdo é diversificar tanto a forma como seu conteúdo é distribuído quanto as maneiras de monetização. Apostar todas as fichas em uma única plataforma — seja ela de distribuição de conteúdo ou uma rede social específica — pode ser arriscado, especialmente quando essas plataformas não remuneram de forma justa ou dependem inteiramente de algoritmos para decidir o que terá alcance.
Exemplo prático: Um criador de conteúdo que se concentra exclusivamente no Instagram, por exemplo, pode considerar explorar outras formas de monetização, como parcerias com marcas, workshops ou cursos pagos fora da plataforma. Ao diversificar suas fontes de receita, o criador diminui sua dependência dos algoritmos e amplia suas oportunidades de ganhar por seu trabalho.
A evolução da tecnologia: será que os algoritmos podem melhorar?
Por outro lado, a tecnologia também precisa evoluir. Os algoritmos ainda são, em grande parte, cegos para as particularidades que fazem de um criador algo único. Eles avaliam sucesso com base em números de engajamento, mas não conseguem captar a autenticidade ou a qualidade do relacionamento entre o criador e sua comunidade.
Exemplo prático: Um creator que mantém um relacionamento genuíno e profundo com seus seguidores, oferecendo conselhos, interagindo ativamente e criando discussões significativas, pode ter uma taxa de engajamento menor do que alguém que publica conteúdos virais. No entanto, sua influência sobre sua comunidade é muito mais forte. O algoritmo, por enquanto, não é capaz de medir essa diferença, o que afeta a maneira como os creators são remunerados e vistos pelas marcas.
Reflexões finais: qual é a sua particularidade?
Neste cenário, a pergunta que devemos fazer a nós mesmos é: qual particularidade da sua personalidade os algoritmos não conseguem identificar? O que faz de você um criador autêntico, que se destaca e que gera impacto, além dos números? Identificar essas qualidades é crucial para continuar criando conteúdo com propósito e relevância, sem depender exclusivamente do que os números dizem sobre o seu valor.
Ressignificar a influência passa por entender que os números são apenas uma parte da equação. O que realmente importa são as conexões que você constrói com sua comunidade e o impacto que você gera por meio de seu conteúdo. O desafio é encontrar formas de equilibrar as exigências da plataformização com a necessidade de se manter fiel à sua identidade como criador.