Quem aposta na influência?
Não é raro ver notícias sobre o Brasil ter mais influenciadores que médicos e dentistas: são 20 milhões de pessoas trabalhando com conteúdo digital, faça as contas. Hoje basta um smartphone e acesso à internet para se autodeclarar influenciador e, num mercado que já percorre as cifras bilionárias, a resistência contra esse fenômeno cresce e é alimentada por fortes estigmas.
O marketing de influência brasileiro é um dos mais sofisticados do mundo. É no Brasil que a indústria publicitária mundial observa cases de sucesso nesse tema, mas ele atravessa um momento delicado, que vai além da conduta individual dos influenciadores. Desde 2022, influenciador digital possui código brasileiro de ocupação e, ainda que isso não signifique a regulação da profissão, se trata de um passo importante para endereçar a responsabilidade civil de uma atividade nem tão recente assim.
Digo que não é recente porque a influência não é sobre ter um perfil atualizado em uma rede social, mas uma habilidade social para além dos endereços digitais. É natural que a responsabilidade desta habilidade recaia sobre quem aparece na tela, porém é injusto ignorar o papel significativo de outros dois atores: o de quem assina o cheque e monetiza à custa do desejo de mobilidade social de brasileiros e o de quem "bate palma para maluco dançar", inflando o número de seguidores e tornando pessoas rasas como um pires famosas por serem famosas.
Há um deslocamento do que é sucesso profissional em andamento, focado no imperativo da visibilidade como elemento decisor do que "dá certo". Diante deste processo, muitos desses jovens influenciadores são meros peões de uma partida. Pressionados a manter altos níveis de engajamento e seduzidos pela ideia de fazer fortuna - uma ilusão -, sucumbem a escolhas questionáveis sem levar em conta os impactos negativos sobre a própria reputação.
É imperativo reconhecer que a crise da influência digital é sintoma de um problema sistêmico e colocar todos os influenciadores no mesmo balaio é simplificar demais a questão. Seja quem paga a conta ou quem aplaude, há uma responsabilidade compartilhada nas estratégias de marketing que comprometem o tecido social e maculam o potencial de um mercado em ascensão. A busca pelo resultado imediato prevalece sobre a responsabilidade social e a ética, e são muitos os envolvidos nesse perigoso jogo. Quando dá certo, todos ganham. Quando dá errado, só um lado paga a conta. Quer apostar quem é?